A CRISE E A ESPERANÇA

Ninguém mais duvida. Estamos no limiar – ou já vivendo as primeiras manifestações – de uma crise em escala planetária e nos mais variados setores da vida. Nesses maremotos, a palavra de visionários costuma estabilizar o horizonte à frente – mas que ninguém se engane, pois somos responsáveis pelo rumo desse barco.

Texto • José Tadeu Arantes

Aos cenários desafiadores associados ao aquecimento global, às pandemias e aos conflitos étnico- religiosos, acrescenta-se agora a avalanche financeira, que, desencadeada no sistema habitacional americano, adquiriu dimensão universal e já se precipita sobre todas as economias do planeta. Afirma um velho ditado que, quando a água bate na cintura, está na hora de aprender a nadar. A água chegou à cintura. E tudo indica que continuará subindo. É mais do que tempo de consultar nossos manuais de natação.

Para além dos diagnósticos dos especialistas, que evidentemente têm que ser considerados, representantes de diferentes tradições espirituais identificam na crise uma dimensão mais profunda. Estamos vivendo, dizem, uma decisiva transição em nosso processo evolutivo: a passagem para um patamar de consciência e realização incomparavelmente mais alto. Nessa perspectiva, todas as dificuldades que estamos enfrentando ou venhamos a enfrentar adquirem outra conotação. Por dolorosas que possam ser, oferecem a promessa de um fim feliz. Pois equivalem à luta do bebê no útero para emergir para a clara luz do dia.

VISIONÁRIOS DA MUDANÇA
Em 15 de agosto de 1925, no dia de seu 53º aniversário, Sri Aurobindo Ghose, o excepcional filósofo, iogue e mestre espiritual indiano, declarou a seus discípulos que as condições para o grande salto evolutivo estavam completamente maduras. Mas que havia, no seio da humanidade, uma enorme resistência à mudança. “Quanto mais a Luz e o Poder se derramam sobre nós, maior a resistência. Vocês mesmos podem perceber que há algo pressionando para baixo. E que há uma tremenda resistência”, afirmou. Sabemos o que aconteceu depois. A resistência foi forte demais. O salto evolutivo não pôde ocorrer. E a humanidade se encaminhou para o maior conflito bélico da história, a Segunda Guerra Mundial, com dezenas de milhões de mortes e uma incalculável destruição de recursos materiais e intelectuais.

Os representantes das tradições espirituais consideram que as condições são ainda mais favoráveis agora do que eram na década de 1920. Mas o sucesso dessa travessia coletiva depende do esforço individual. Quanto mais nos empenharmos no avanço da consciência, quanto mais pautarmos pela consciência nosso pensamento, palavra e ação, quanto mais pessoas conseguirmos convidar para esse grande mutirão, menor será o sofrimento causado pela crise e maior será a probabilidade de fazer dela o trampolim para um futuro brilhante.

O GRANDE SALTO
Segundo Aurobindo, nosso planeta já passou por dois grandes saltos evolutivos. O primeiro deles foi a transição da matéria não viva para a matéria viva. Basta imaginar um cenário puramente mineral, formado por rochas, areia e água. E compará-lo com a paisagem terrestre real, coberta de vegetação e povoada por animais de toda espécie. O segundo foi a transição da matéria viva para a mentalizada. Nesse caso, você pode considerar a paisagem terrestre ocupada por cidades, vias de comunicação e tudo o que é produto da mente humana.

De acordo com o filósofo, assim como a matéria não viva evoluiu a ponto de poder acolher a “descida” do vital (prana) e ser impregnada e transformada por ele, e como a matéria viva evoluiu a ponto de poder acolher a “descida” do mental (manas) e ser impregnada e transformada por ele, também a matéria mentalizada, que é o próprio ser humano, estaria agora pronta para manifestar um estágio de consciência ainda mais elevado, que chamou de supramental.

A respeito desse terceiro grande salto evolutivo, Aurobindo escreveu: “A mudança efetuada pela transição da mente para a supermente não é apenas uma revolução no conhecimento ou em nosso poder de conhecer. Para que seja completa e estável, deve ser também a transmutação divina de nossa vontade, de nossas emoções”.

Na perspectiva do mestre, a revolução supramental não é um projeto para o futuro distante. Mas um processo que já estaria em andamento e cujo desfecho ele considerava iminente. Desse ponto de vista, a atual crise planetária, com todos os seus desdobramentos (ambiental, econômico, social, político, cultural etc.), decorre do fato de essa transição não ter ainda se completado. E, por outro lado, é a própria condição para que tal complementação ocorra.

Fonte: Revista Bons Fluidos Fevereiro 2009 edição 119

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